Ausência presente

Há momentos em que nos sentimos como se nossa própria voz tivesse nos abandonado. É como se uma espécie de falta de vontade absoluta nos tivesse invadido e deixado nossa voz e nosso canto mergulhados num estado de completa prostração. A sensação é que, do dia para a noite, todo o meu entusiasmo e alegria de cantar houvessem desaparecido para sempre da face da Terra. Pode parecer que estou pintando uma imagem um tanto dramática, mas assim é que é de fato. Quando tal evento acontece, da maneira que descrevi, é porque nossa voz realmente se ausentou por um tempo, a fim de realizar um trabalho muito importante de resgate. Trata-se de uma jornada da voz em busca de alguma camada que ainda se encontra enfraquecida e que, no entanto, já está pronta para receber ajuda. Vale ressaltar que esta voz forte que vai ao auxílio de uma voz frágil também já foi, em outro momento do processo, igualmente frágil. É mais ou menos assim que a dinâmica se dá: vamos fortalecendo uma determinada voz em presença, vontade, fios, borda, camadas, som, sonoridade, etc. E assim que ela se fortalece em todos esses níveis, a voz está apta a transpor essa camada para dar início a uma nova etapa. Mas para que isso ocorra, ela tem de elevar uma outra voz que está mais abaixo, de maneira que toda a estrutura se desloque em conjunto. Aí vemos acontecer uma transcendência. Então, quando sentirmos essa sensação de ‘ausência de voz’, é bom ter em mente que, na verdade, trata-se apenas de uma pausa, pois um trabalho silencioso está sendo realizado internamente em nossas camadas vocais: é todo o nosso ser que, em segredo, se prepara para realizar uma transcendência.

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